Chá
29 jul 2020
Milena Félix
A fervura da água vai transformando aquilo que era mato em bebida quente. Eu lavo alguns raminhos, tiro toda a terra. Pego uma vasilha, água da torneira, não precisa ser filtrada. O sol nascendo vai me conduzindo com certa preguiça enquanto preparo as coisas. Acrescento açúcar, amasso os raminhos na água. Agora o essencial: ligo a chama do fogão e o fogo se acende embaixo da vasilha fria.
Seria mais fácil fazer chá sem os ramos que dão o sabor, ou sem o fogo que faz as coisas acontecerem? A vasilha é onde tudo acontece, o leito amoroso onde a planta e a água se misturam. Conforme o fogo vai provocando a fervura, a água amolece as folhinhas do ramo. Cada folha vai se curvando para trás enquanto solta sua essência e transforma o que a água era. No final das contas, não tenho mais água nem planta, tenho chá pronto. Foi preciso calor para que as duas se misturassem tanto, até que se confundissem uma com a outra.
E no amor, é isso o que quero para nós: assim como se faz um chá, quero queimar do seu lado até que nos misturemos tanto, que nem a existência do ramo nem da água façam mais sentido separadas.
Prefere ouvir o texto? *
Outros textos sobre amor para você:
A partir de quanto tempo a gente já pode sentir saudade de quem a...
12 jul 2020
Últimos adicionados:
Eu sinto falta da verdadeira escrita. Do que antes eu costumava, de...
26 jul 2020
- ela, para mim, é a porta do céu.
- ele, para mim, é o que me mantém...
14 mai 2020
Um tempo feliz em que tudo era possível
Houve um tempo feliz em que tudo era possível. As minhas noites em claro...
25 jan 2020
* Audiodescrição narrada por Thalia Martins