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O quarto

 

É um tanto quanto opressor ficar dentro desse quarto por tanto tempo. De 20 anos, 10 passei aqui dentro. As paredes que me cercam são de vários tipos, e, às vezes, não me incomodo com elas. Na maior parte do tempo, para ser sincera, preferi ficar aqui. Entrei e fechei a porta. Houveram ainda algumas vezes em que tapei os ouvidos para não ser incomodada e - na última dessas vezes - tive que ser puxada à força para a vida lá fora.

O que me incomoda mesmo é quando as pessoas me forçam a ficar aqui, que é o caso de hoje. A opressão arranca ódio de minhas canelas que supita pelo corpo todo. Eu fico realmente brava quando determino que preciso de uma coisa e pessoas, que não sabem que preciso, dizem que não posso alcançar. Então decido ser orgulhosa o suficiente para não fazer qualquer outra coisa, senão me trancar em minhas paredes.

Também há as vezes em que não percebo meus passos me guiando, de costas, para dentro do meu quarto. Ninguém liga a luz. Subitamente estou, sem saber, dando de cara com paredes ao tentar dar passos na minha vida. 

O quarto bloqueia meus pensamentos, as paredes cerceiam meu ser e onde posso ir. O quarto tem cheiro de fracasso e causa revolta. Eu sempre quero voltar para o quarto quando estou só. Eu sou feliz no quarto. Eu gosto das minhas próprias prisões, porque é muito mais atraente que fazer alguma coisa. Eu tenho medo de ser solta, enquanto não há nada que eu queira mais que a liberdade. 

24 jan 2020

Milena Félix

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