Como é que se ama?
É completamente estranho pensar, para mim, em amor sem dor.
Eu sempre me lembro do antes, da agonia vivida, do esperar, da dor da carência e do abandono. Tudo o que minhas mãos querem escrever sobre é como a coisa mais dolorosa do mundo é perder o que se ama.
Para mim, escrever sobre amor é escrever sobre a busca dele. E buscar dói.
Para mim, amar é buscar o amor?
E como é, então, que se ama?
Não o amor solitário, não o amor sozinho, não a idealização do amor.
Como é que se vive, de fato, o beijo e o filme abraçados sem se lembrar do querer passado e sem antecipar a saudade futura?
Eu não sei amar, como eu acho que ninguém sabe.
Tratar o extraordinário com naturalidade e o natural como extraordinário.
Passo dias a fio olhando para o agora e tentando enxergar nos olhos dele como ele precisa ser amado. A agonia de pensar em subir na árvore quando já se está no topo dela.
A questão é que eu não sei, simplesmente não sei, saber quando estou caindo. Amar amando, sem saber amar.
Tudo o que fui ensinada é a esperar e a querer. Mas tudo sempre acaba depois do primeiro beijo.
Sobre o que acontece depois dele, só aprendi a esperar o mal. O mal que me acontece, nunca nos acontece.
Mas o que é que se FAZ sem ESPERAR?
Morrer por ele? Viver tudo possível no agora que temos? Amar cotidianamente ou perceber o ultra-romântico no cotidiano? Me amar primeiro?
Eu paro. Por que saber amá-lo e não amar é o que me preocupa?
31 dez 2019
Milena Félix