O começo
Eu procuro a lua todas as noites no céu da varanda. É como ligar quem eu sempre quis ser com todas as coisas bonitas que houveram dentro de mim. Com quem eu era. Ou ainda sou? Já ouvi falar que coisas boas permanecem para sempre dentro da nossa alma.
Eu não sei escrever sobre tudo. Esse tudo, de tão inalcançável, nem deve existir. Eu escrevo como tenho vivido: deixo a palavra me levar - tocando só algumas partes desse todo intocável.
Está tudo bem. Eu sempre quis essa liberdade da alma, um filme estampado na vida. Pena que para perceber que está tudo bem eu precise me esforçar.
Mas a vida não é esse martírio incesso e constante que eu faço parecer ser. Tem esse outro lado prazeroso em ficar aqui e passar por tudo o que é bom.
- Me abrace. Não que eu esteja nervosa. Se eu quero um abraço? Só quero, quando receber, não vai ter efeito algum.
Quando eu era uma criança, e adoecia na escola, eu sempre parava por um tempo e pensava se não era coisa da minha cabeça antes de incomodar um adulto. Tenho estado parada ao longo de toda a vida pensando: “ será que é coisa da minha cabeça?”.
E quando o adulto que eu não quiser incomodar for eu mesma? Sinto amor intransitivo agora.
Sem dúvida essas coisas boas ainda estão comigo e permeiam o meu ser. Eu sou uma coisa boa.
Hoje, não olhei a lua. Adoro varandas, mas não fui até a minha. Tenho medo e amor por algumas coisas. O que é que é a minha vida?
A inconsciência me parece tão atraente agora.
31 mar 2020
Milena Félix