Rotina

Dá um pulo brusco da cama assim que o despertador toca. Dentes, chuveiro, jeans e cabelo penteado sempre para o mesmo lado. As três torradas orgânicas e suco de laranja de caixinha eram sagrados a qualquer dia da semana. 7:12 saia de casa, em ponto e sem atrasos, para tomar o ônibus das 7:15 – já conhecia o motorista, o veículo e as pessoas que tinham o mesmo hábito de ônibus que ele.

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Desceu do ônibus com bastante pressa, ultrapassando as pessoas ao longo do caminho. “Como diabos uma pessoa tem a audácia de andar devagar no meio da rua em uma segunda-feira de manhã?” “Todo mundo tinha um lugar para estar e um horário para cumprir”. Andava obstinado, como se o alimento dos filhos dependesse de não chegar lá atrasado.

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Era um cara cheio de manias, como é de se notar. O cadarço amarrado sempre do mesmo jeito, os passos sendo dados sempre na mesma velocidade, a mão que segurava a pasta de couro, comprada há 17 anos e usada todo santo dia útil, na mesma posição automática a que o corpo já estava acostumado e para a qual se dirigia quase sem comando.

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Virou uma esquina, desceu uma rua e chegou no prédio ao qual se dirigia todos os dias. Só mais 100 passos de distância, quase lá. O pão dos filhos. “Droga!”. Seu modo automático não contava com dias de recesso e com manhãs vazias. Qual protocolo seguir agora?

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Começara a suar, a balançar as pernas e a inquietude já tinha se apoderado dele. O que iria fazer em casa? O que iria fazer na rua? “Sônia! Essa é a resposta..”. Sua recente namorada, escolhida em um site de relacionamentos por apontar ter o mesmo tipo de hábitos que ele, com certeza teria um programa minuciosamente planejado para os dois. Ligou para ela.

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Era melhor pegar um táxi, estava farto de ônibus por hoje. 8 min e meio até a casa dela, que visitara somente uma vez, no primeiro encontro, mas que era impecavelmente organizada, como fizera questão de notar. Estava confortável de novo, já sabia o que estava por vir.

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–Bom dia princesa! Acordou um tanto cedo hoje ein...

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Arregalou os olhos, aquela não podia ser a casa da tão perfeita Sônia. Os sintomas voltaram e suas pernas não paravam mais em pé no meio do chão coberto por roupas e coisas espalhadas. Sentou-se.

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–Tão feliz em te ver hoje, meu amor, em uma plena segunda-feira de manhã!

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Se sentou do lado dele e começou a beijá-lo dizendo que queria sair hoje para passear sem rumo.

De coração já acelerado e suando frio, ele se levantou, mais uma vez bruscamente, e saiu dizendo que estava tudo acabado.

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Enlouqueceu.

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Fez uma nova planilha de ocupações naquela semana.

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