Produtividade
23 de ago | Reflexões | Leia em 3 min
Milena Félix
Quando acordo tarde, sinto dores na cabeça. O mal-estar não muda com o passar do dia. Acabo não fazendo nada.
Aliás, o que quero dizer quando digo que não faço nada?
Quero dizer que não fiz nada do que havia planejado. Deixei meu instinto decidir as coisas que sempre decide: descansar, ficar na cama, vestir pijama e estalkear as pessoas que não gosto.
No final do dia, a pior coisa não é mais a dor de cabeça. Eu me sinto decepcionada. Mas talvez a palavra não seja essa. Culpa? Desaprovação? Medo do julgamento.
Na verdade, por trás de todos os fingimentos, eu só quero permissão para não me punir pelo que não fiz.
Eu devo ser produtiva todos os dias, você sabe. Caso eu não seja, eu não tenho valor. Eu fico REALMENTE feliz quando sou. Eu tenho que cuidar do meu corpo, me exercitar, comer só comidas saudáveis e sem açúcar demais. Mas o problema é que os 30 min diários disponíveis que tenho para malhar nunca são o suficiente para acabar com a celulite.
Também preciso ler muito. E depois ler mais do que muito, sempre mais. Tenho que conhecer todos os clássicos, mas passar a ter um estilo próprio. E parece necessário também assistir aos lançamentos do cinema e nunca desistir de uma série.
Como quero ter relações sociais, também preciso cuidar delas. Preciso passar tempo com minha família, com os amigos e fazer networking para conseguir um emprego melhor.
Cuidar da pele. Cuidar da mente que, com certeza, precisa de cuidados. Decorar minha casa igual às do Pinterest. Namorar.
Deus. Eu também preciso arranjar tempo para Ele. Mentira, tenho que dar todo o meu tempo. Tenho que colocar Deus em todas as outras coisas.
A questão é que tudo o que me é necessário, exige dedicação exclusiva. Cada coisa quer tudo de mim. Mas eu também não posso ser só uma coisa. É uma busca infinita e extenuante. Tudo o que quero é estar sem problemas, mas para isso tenho que resolver infinitas coisas impossíveis.
No fim do dia, estou cansada. Aliás, assim que acordo. É um labirinto sem saída, que me carrega de um lado para o outro, entre a pressão e a desaprovação. Nunca chego em lugar nenhum.
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* Audiodescrição narrada por Igor Henrico