Um pequeno adeus à escrita
13/03/2021 | Milena Félix | Leia em 4 min
Se me perguntassem, há pouco tempo, o que é que eu faço de melhor, eu responderia, com facilidade: “escrever”. Mas faz tanto tempo que não escrevo que realmente me esqueci como se faz isso. Não tenho a menor vontade quando tento, e tenho, então, me questionado: “eu acho que realmente não gosto mais de escrever”.
A escrita sempre foi ferramenta pra mim. Uma ferramenta para o meu propósito maior, que é a cura. E o propósito se manteve, mas agora que me encontro tão perto dele e, ao mesmo tempo, tão longe de todo o sofrimento, eu não quero mais escrever. Porque as coisas me acontecem como ondas do mar, elas só vêm. E cabe a mim receber e abraçar, num hábito de acolhimento.
Quando eu fui fazer um procedimento médico doloroso no mês passado, eu, cheia de desespero e medo da dor, disse a mim: “você vai receber dor, e deve apenas sentí-la, como um presente”. Tudo é presente, mas tudo é emprestado. Nada é criado, se empresta. A médica não produziu dor em mim, quando remexeu no meu corpo. Ela apenas provocou uma dor que já existia. Ela veio, se manifestou, mas foi embora. Emprestada. Quando as coisas não são mais úteis, elas desaparecem.
Assim foi com a escrita. Em meio ao sofrimento e desgaste, eu precisei da escrita. Precisei derramar ardor no papel, até que ele se metamorfizasse naquilo que era eu por dentro, como uma forma de alívio. Mas assim como a dor, a escrita me foi emprestada enquanto foi precisa, e, depois, ela foi embora.
Agora, assim como a maioria dos outros seres humanos da face da terra, eu sei escrever, e pode até ser legal, mas a escrita não brota de mim como um fruto de uma árvore, tão naturalmente. Exige esforço e trabalho árduo, dedicação sofrida.
Mas ainda é um lugar de encontro com aquilo que eu costumava ser, e como é bom me encontrar comigo, em qualquer das minhas fases. Afinal, que criatura agradável eu sou para mim mesma, e que lugar de conforto eu represento para mim.
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